domingo, 30 de dezembro de 2007

Ser Poeta




Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendos
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

Silêncio




Coração aflito
Gritos ecoam

Silêncio

Coração quebrado
Estilhaços

Coração?

Silêncio torturador
Levou tua voz
Deixou-me abandono


Cristiane Gomes

Camocim, 2007

sábado, 22 de dezembro de 2007

Faces do amor


Amor, paixão
Amor, desejo
Desejo, ilusão
Paixão com desilusão

Amor, entrega
Amor, doação
Doação, união
Entrega de coração

Amor, vida
Amor, morte
Morte, tristeza
Vida de solidão?

Amor, menino
Amor, liberdade
Liberdade, viver
Menino é o amor

Amor, grito
Amor, viagem
Viagem, leveza
Grito de leve o amor

Amor, encanto
Amor, magia
Magia, sedução
Encantado está meu coração

Amor, pranto
Amor, felicidade
Felicidade, alegria
Pranto vem ao partir felicidade

Cristiane Gomes

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Escreve-me



Escreve-me!Ainda que seja só

Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!


"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...


Florbela Espanca

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Tuas marcas






As ondas suavemente quebram sobre a areia da praia
Mas não tão suave quanto o teu beijo

O mar deixa marcas na areia da praia, marcas bem desenhadas
Mas não tão definidas quanto às marcas que deixaste gravada na tábua do meu coração

A brisa balança as folhas dos coqueiros
Mas não tanto quanto você faz pulsar o meu coração
Um ritmo acelerado, palpitante, eufórico

As ondas vêm e vão seguindo as correntes
Mas não seguem tanto quanto o meu pensamento a ti buscar
Tu és bússola do meu coração.

Cristiane Gomes
Tatajuba, 2007

Fantasia


Se estivesses aqui
Caminharíamos de mãos dadas
Banharíamos ao mar
Banharíamos ao nascer e pôr- do –sol

Se estivesses aqui
Meu coração estaria a sorrir
Estaria menino, saltitante
Vibrante

Se estivesses aqui
Cantaríamos juntos
Riria teu riso
Ouvirias meu canto

Se estivesses aqui
Felicidade me visitaria
Faria morada
Na casa do meu viver

Se estivesses aqui
O sol seria mais brilhante
As dunas mais elegantes
E o mar, mais fascinante

Ah, se estivesses aqui
Entregar-me-ia inteira
Numa oferta primeira
De prova de amor

Ah! Se estivesses aqui...

Mas tu não estás
E mesmo distante
Sou tua
Tuas marcas estão em mim
Delimitaste o terreno
O terreno do meu coração
Que são terras pertencentes a ti

Quando virá? Não sei
Amanhã? Talvez
Mas são terras tuas
Dotadas de escrituras
Gravadas em meu coração
Gravadas da lembrança, da felicidade
Do amor
Que deixaste em mim.


Cristiane Gomes
Tatajuba , 2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Soneto do maior amor


Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer- e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.



Oxford, 1938



Vinícios de Moraes

sábado, 1 de dezembro de 2007

ESPERA


A tua presença, a minha espera...

Estou a descer as dunas
Sinto a brisa do mar
Vejo o balançar dos coqueiros
O movimento das ondas
Aprecio o vermelho do pôr-do-sol
E algumas solitárias estrelas a fazer companhia a lua
E você está presente
E você se faz presente
Em meu coração,
Em meu pensamento
E à medida que desço, lembro mais de você
Quisera eu estar descendo para os teus braços amados
Para os teus amados braços
Que um dia me acolheu
Agora, distantes
Agora, choro eu.

A noite está chegando
A esconder o vermelho do céu
Meu coração sangrando
Nada consegue esconder
Como o Marte solitário a paquerar a Terra estou eu.
Vem, meu Amado!
Estou a tua espera
As horas parecem longas
E os dias intermináveis a tardar.
Vem que te espero
Meu coração é teu!


Cristiane Gomes

BUSCA


Procure-me
Procure meu corpo
Não como se busca água para saciar a sede
Mas como se busca abrigo
Querendo aconchego
Procure-me além do desejo
Sou tua! Sejas meu!
Aqui, agora, hoje, sempre
Onde eu estiver
Onde estejamos nós
Busque em mim companhia,
E eu te compartilharei a minha alegria
Dê-me carinho
E te retribuirei amor.

Cristiane Gomes